QUÍMICA-PLACA
Alexandre Tinoco
Presta-se atenção
a toda placa de tábuas
ponte de palavras:
Cuidado com a cabeça.
Qualquer palavra
pode ser explosiva
se não estivermos
atentos aos princípios
termodinâmicos
acima
estabelecidos.
TÁBUAS-PALAVRA
Alexandre Tinoco
Nós nos conhecemos
Entre tábuas:
Eu
E as palavras.
Ponte de Tábuas, 15/05/2001
Ó PONTE DE VERSOS
Ana Paula Pedro
Para Thereza Christina, Ricardo Ruiz e Gilson Maurity
és a ponte
entre meu sim e o não
que encerra a vida.
minha boca é serventia
desta gramática,
literatura vadia.
de pequenos assentos,
todos, a postos,
nos apostos de cada terça ímpar.
tens espaço bastante
para os atormentados
notívagos vocábulos.
para lamentos e risos
de teus poetas embriagados
de te saber, existir.
ó ponte de versos,
dedico-te este poema.
existo, pois, para ti.
FILHOS DA MÃE POESIA
Anatta Nadeen (Oshean)
Encontrei irmãos e irmãs por afinação
Cheguei à Ponte que une as margens
Desesquizofrenizo
Fico no verso do meio
Amei
Amarei, pois amo
E ando, indo e vindo
Desclamando e sorrindo
A todo momento em que gostaria
De dar uma gostosa mordida.
Mania de mexer a boca
Solto as palavras
Ecoam no vazio
O que eu chamo?
O silêncio
Obrigada por seus ouvidos
De um jeito ou de outro
Penetro
O meu som é ereto!
Rio, 21/03/2001
VERSOS MÁGICOS
Andrea Paola
Aos amigos Ricardo e Thereza e aos peregrinos desta travessia
Fazer poesia é:
atravessar a pé
uma ponte de versos...
Rimar sem remos,
navegar por dentro
do oceano das coisas
É recolher a âncora e zarpar!
Abrir comportas, portas, janelas,
libertando turbilhões de prisioneiros,
encantos e espantos...
É atracar...
Atracar nas praias do senso
à beira da insanidade...
e SER pacífico!
É pôr a mobília íntima pra fora...
Virar ao avesso
o âmago da alma,
pendurar o ser
no varal dos tempos,
tomar banho de orvalho, garoa, vento
É pegar sol... na sombra!
Tirar o mofo da sala!
Fazer poesia é:
falar alto
em pensamentos...
Dar sentidos, destilar sentimentos
Ver
através do vazio
Ouvir
através do silêncio
o eco do infinito movimento...
Ter
todas as dúvidas e respeito
pelos ritos que celebram a vida
Crer
em todas as crenças
Ler o certo
por linguagens tortas
É não ter idade e, principalmente,
falta de tempo pros amigos
e não possuir nada além de si mesmo
É uma viagem solo, pessoal e intransferível...
É ser múltiplo e possível...
Derrubar barreiras do inconsciente!
Descrever o indescritível!
Conquistar o prazer inenarrável!
Redundar, redundar... sem medos e intolerâncias...
Fazer poesia é... tudo isso!
Encontrar um oásis no deserto,
sereias em alto mar,
a fonte da eterna juventude,
ter filhos, dar frutos...
Querer saber tudo...
Fazer poesia
é tão... simplesmente... tanto!...
...que não se cala,
desata
em cada verso
o passe da mágica,
o nó do mistério
que cada poeta concebe.
Deus é que é mágico!
Rio, 18/12/2000
ENIGMA
Cairo Trindade
Para Laura Esteves
sou esta ponte de espanto
no entra-e-sai – no vai-e-vem
metade de mim é quando
a outra metade é quem
parte de mim é desespero
outra parte desencanto
só sei ser múltiplo inteiro
quando eu amo – quando eu canto
tento juntar os pedaços
passos, pessoas passadas
não sei onde estão meus rastros
meu retrato mais exato
entre estes cacos e restos
nem perfil nem biografia
se me perdi nos meus versos
um dia viro poesia
in Poematemagia, Contemporânea, 2001
POEMA VOLÁTIL
Cristina Terra
me diluo e concretizo
secreto senso liso
volatilizo a idéia
vibrada na matéria
pelo soar do guizo
– oco e conciso –
som cintilante que ecoa
na ponte de versos
em horas vagas...
são vagas de vaga-lumes
a iluminar
poetas, profetas,
estetas da palavra tingida,
fingida e possuída por
horas vagas...
onde, árduas,
doces ou amargas,
as magras sílabas
brotam
na transpiração
do poema.
À PONTE DE VERSOS
Elisa Flores
Um grande pequeno espaço
Com artistas reunidos
Que, nas terças alternadas,
Atravessam ponte mágica
E decantam poesia.
Conduzindo tal evento,
Eficazes lideranças
Vão chamando, convidando
Todo aquele que emblema
O resgate do poema.
Rio, 30/04/2001
A PONTE DE VERSOS
Gilson Maurity
Eu fui no Itororó
Beber água
Não achei nem linda morena
Que diziam haver por lá.
No caminho tinha uma
Pedra que não se mexeu
Com meu andar.
Disseram pra eu ir
Pra Pasárgada
Que lá tinha um rei porreta.
Preferi continuar
O meu caminho
Pra Santa Maria de Passarinhos.
Aí encontrei uma ponte,
Ponte sem rio por baixo
E sobre ela uns poemas
E todos os poetas por lá
Falando de coração aberto,
Com a boca, com as mãos
E na poesia imersos:
Era a Ponte de Versos.
GHOST-WRITER
João de Abreu Borges
O poeta tem tanta coragem
que, expondo a si mesmo,
expõe-se profundamente,
deixando, assim,
na alma dos versos que escreve,
a alma dos homens que os lêem.
PONTE DA ALQUIMIA
Jorge Ventura
Para Thereza e todos os poetas da Ponte de Versos
I
depois do nada – esplim.
no apogeu do abandono,
sobrevivo ao naufrágio do mim.
II
emerjo das águas árduas
– lágrimas nos olhos –
e ancoro-me em tábuas.
III
eis o porto, o ponto, a ponte.
meu encontro marcado contigo,
onde nada é obscuro e sem horizonte.
IV
pois, sobre a ponte, envolvidos na alquimia,
sorvemos, de nós, puramente,
a amizade e a poesia.
V
quanto a teus versos, coloque-os
junto aos meus, misture-os
e entenda-os como um só colóquio.
PONTE DE VERSOS
Luiz Fernando Prôa
Na tela negra
de minhas emoções
vaguei
cego de amores
No vazio
de invisível estrada
meus pés
inseguros
cruzaram
por frágil
Ponte de Tábuas
Do outro lado
agora claro
divisei tua alegria
e te amei
Não foi à toa
construímos
poesia
Juntos
afinal
coração a coração
faremos da vida
poema
pois nos ligamos
corpo e alma
por esta
Ponte de Versos
ATÉ NO CHÃO
Marko Davis
A Ponte só parece um lugar pequeno:
fica tão cheio!
Difícil encontrar uma cadeira
para ver e ouvir o verso
de um irmão ou irmã
de grande coração
que põe seus sonhos
sentimentos
a cada estrofe.
Aqui
na Ponte de Versos
até sentado no chão
vale a pena ouvir
seus poemas e canções.
Rio, 28/06/2001
CUIDADOS...
Messody Benoliel
Lá me realizo
ouvindo, sentindo
e refletindo com maestria.
Se a Ponte de Versos
inexistisse, barcos,
berços d’água,
desnecessários seriam.
Só reflexão inevitável
me alcança – coisa de poeta.
É o sentido duplo de uma frase
ali ilustrada:
Cuidado com a cabeça!
Ponte de Tábuas, 17/04/2001 – 23h30
DESCRIÇÃO
Nei Leandro de Castro
Fio de náilon limita
onde o céu e o mar abraçam
silêncios amalgamados.
Rumor de fecundação
no cemitério das águas,
espanto de algas feridas
por dentes de um peixe cego.
O clarim do sol quebrando
os vidros da madrugada.
Setembro toma emprestado
o colorido de abril,
última estrela desmaia
aspirando cloretil.
Por trás do biombo de nuvens
a rubra aurora se veste,
corpete moldando o busto
e rosas vermelhas entre
a lassidão dos cabelos.
Um leque de quatro cores
oculta-lhe o azul do sexo.
Aurora virgem, amante
dos loucos e suicidas,
todas as noites adúltera
na cama do mar ausente,
o hímen reconquistado
por anjos, peixes e pássaros.
À PONTE DE VERSOS
Paulo César Oliveira
I
Há uma Ponte entre dois pontos.
De um lado, estou eu, sob o céu
Tão distante. Do outro, o horizonte
Onde vejo todos os homens –
Amantes, amigos, vadios,
Homens comuns vindos de longe.
Vêm vindo, com sede, à Ponte
De Versos. Têm sede de versos
E bebem o que podem. Sacodem
Dos ombros o mau humor,
O mal de amor, os escombros
E toda sombra do resto do dia.
É que na Ponte somente passa
A Poesia.
II
Há também muitos pontos de vista
Para quem olha da Ponte:
Visões de poetas, patetas, ascetas,
Profetas, xeretas, caretas,
Todos muito loucos e não são
Poucos. E, portanto, mesmo longe,
Em outra geografia, há sempre poesia
No meio do caminho que é a Ponte:
Este ponto azul no meio de tua testa.
Este susto e medo de ser Poeta.
Ponte de Tábuas, terça-feira, 15/05/2001
SUICÍDIO
Pedro Tostes
Amarrei em mim um poema:
uma ponta no pescoço
outra num verbo
e me atirei
da Ponte de Versos.
Jardim Botânico, 9/07/2001 – 16h30
PONTE DE VERSOS
Ricardo Ruiz
Para Thereza
Ponte de Versos
Edifício de palavras
Sobre o rio de bela imagem.
Poemas em profusão
Exercício de produção
A Casa da Criação.
Produzimos nossa colagem
Vivenciamos a passagem
Da construção da paisagem.
Gente de qualquer idade
Poetas de qualidade
Fusão de mentalidades.
Pensamentos a todo vapor
O poeta virando ator
Transformando a dor em cor.
Uma fonte de fina lavra
A energia mais cara
A emoção não pára.
Agora uma boa dica:
Qualquer um que participa
Sua alma purifica.
Cosme Velho, 15/05/2001
RODERICO VI
Ricardo Ruiz
Eu sou Poeta!
Poeta do Posto Nove.
Do pê de palavra,
Do pê de poema e paixão.
Poeta da pura piração.
Da plena perdição,
De prática na penetração
E perícia na perfuração.
O papa da putaria!
O pirata da passeata,
O Polinizador da pele pelada,
O Prevaricador do paradoxo,
O protetor da polimetria,
O pesquisador da polissemia.
O prelúdio da paisagem
Poeta do Parangolé,
Profeta da Ponte de Versos!
SANGRIA
Selma Wandersman
Cada palavra que cai,
É mais uma fenda que sangra.
Cada verso que estanca,
É mais um poema que se esvai.
Poesia é amor, suor,
É sexo, sofrimento e dor.
Para cada palavra cuspida,
É uma idéia escorrida
Como lágrima de choro ou felicidade,
Como gota de suor.
Só me resta a realidade
De tentar, tentar, tentar,
Aguardar a inspiração,
Mesmo que o branco insista
Em negar o que me entala
E evitar que em escrita vire a fala
Este pensamento que me cala.
Ponte de Tábuas, 1/05/2001
COXAS DE CETIM
Sérgio Gerônimo
Para a Ponte de Versos
sugo tua nuca seca
subo nas tuas ancas santas
sumo nas tuas coxas
desarrumo todas as colchas
de cetim
mas, de certo, só o deserto
da cama
e a escama saída
de minha marota manobra
que se amarrota na mesma
rota-peixe
e sinta
e deixe...
o sulco da tua nuca
que desarruma tuas ancas luciferanas
não mais secas as colchas
sumo, uma vez mais, nas tuas coxas
de cetim
A PONTE DE TÁBUAS
Silvia Bagrichevsky
Uma dia sentei numa mesa
Deste bar. Com certeza,
fiquei acesa,
atenta aos prosadores.
A poesia se ouvia em cores,
nos ouvidos reluzia.
O tempo passa leve
e ninguém sentia
os mestres criadores
brincando com amores,
tristeza, alegrias,
deixando a sala vazia de certezas
e plena de belezas
que mundos e mundos diferentes
ofereciam ali à gente que sente,
gemendo o coração de alegria,
tocando as almas de perdão e conforto
em saber que também no outro
existe a incerteza de tudo
que ali se despe e se veste
de fantasia,
desejos e aspirações.
Na Ponte de Tábuas,
são tantas construções
que não há espaço para senões,
talvez ou pode ser.
Ali já é tudo
tão cheio de conteúdo,
que a ponte estremece
fazendo valer o poema
a uma breve prece.
PONTE DE SONHOS
Sonia Segadas
Ao segundo aniversário da Ponte de Versos
Da pele dos pêlos
dos dedos
do corpo inteiro
esguicham versos
num mar de tábuas
onde barcos de papel
embarcam
a navegar ao vento
sentimentos
intensos gritos
momentos vividos
divididos
os mais bonitos poemas
como o ser amado
bailam sonhos alados
em revoada
na Ponte de Versos
AS TIME GOES BY
Tanussi Cardoso
Meu bem
Me chama de Humphrey Bogart
Que eu te conto Casablanca
Me tira esse sobretudo
Sobretudo, conta tudo
Que eu te dou uma rosa branca
Mas, meu bem
Me chama de Humphrey Bogart
Te dou carona em meu carro
Chevrolet – que sou bacana
Te levo, meu bem, pra cama
Fumamos nossa bagana
Te provo que sou sacana
Te faço toda a denguice
Te dispo que nem a Ingrid
Te dou filhos de montão
Só pra te ver sufocar
Mas me chama de Humphrey Bogart
Faço chover colorido
Como num bom musical
Te chamo de Lauren Bacall
Te danço, te canto, te mostro
Entre as pernas meu bom astral
Te deixo pro enxoval
Meu chapéu preto de gângster
Mil poemas de ninar
Só pra te ouvir sussurrar
Como te amo meu Humphrey Bogart!
in Poemas Cariocas, Ibis Libris, 2000
INGRID
Thereza Christina Rocque da Motta
Para Tanussi Cardoso e seu Humphrey Bogart, a resposta prometida
Amor,
me chame de Ingrid Bergman
que eu volto à Casablanca
arranco teu sobretudo
jogo fora teu chapéu de gângster
e te levo pra Paris
até as margens do Sena
pra ver a Notre Dame
na ilha de São Luiz!
Te farei tanto carinho
de fazer inveja a qualquer
Lauren Bacall...
Me chame de sua Ingrid
que dançarei pra você
o cancã de Montmatre
e o Folies Bergère na Praça Pigalle!
Depois me leve em seu Chevrolet bacana
até a Riviera.
Vamos gastar nosso tempo
dando outro fim pra nossa história.
Mas, se de tudo, não der certo
lembre-se:
nós sempre teremos Paris!
Rio, Jardim Botânico, Livraria Ponte de Tábuas, 7/12/1999
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