domingo, 30 de agosto de 2009

POEMAS PARA A PONTE DE VERSOS

QUÍMICA-PLACA

Alexandre Tinoco


Presta-se atenção

a toda placa de tábuas

ponte de palavras:

Cuidado com a cabeça.

Qualquer palavra

pode ser explosiva

se não estivermos

atentos aos princípios

termodinâmicos

acima

estabelecidos.


TÁBUAS-PALAVRA

Alexandre Tinoco


Nós nos conhecemos

Entre tábuas:

Eu

E as palavras.


Ponte de Tábuas, 15/05/2001


Ó PONTE DE VERSOS

Ana Paula Pedro

Para Thereza Christina, Ricardo Ruiz e Gilson Maurity


és a ponte

entre meu sim e o não

que encerra a vida.

minha boca é serventia

desta gramática,

literatura vadia.

de pequenos assentos,

todos, a postos,

nos apostos de cada terça ímpar.

tens espaço bastante

para os atormentados

notívagos vocábulos.

para lamentos e risos

de teus poetas embriagados

de te saber, existir.

ó ponte de versos,

dedico-te este poema.

existo, pois, para ti.


FILHOS DA MÃE POESIA

Anatta Nadeen (Oshean)


Encontrei irmãos e irmãs por afinação

Cheguei à Ponte que une as margens

Desesquizofrenizo

Fico no verso do meio

Amei

Amarei, pois amo

E ando, indo e vindo

Desclamando e sorrindo

A todo momento em que gostaria

De dar uma gostosa mordida.

Mania de mexer a boca

Solto as palavras

Ecoam no vazio

O que eu chamo?

O silêncio

Obrigada por seus ouvidos

De um jeito ou de outro

Penetro

O meu som é ereto!


Rio, 21/03/2001


VERSOS MÁGICOS

Andrea Paola

Aos amigos Ricardo e Thereza e aos peregrinos desta travessia


Fazer poesia é:

atravessar a pé

uma ponte de versos...

Rimar sem remos,

navegar por dentro

do oceano das coisas

É recolher a âncora e zarpar!

Abrir comportas, portas, janelas,

libertando turbilhões de prisioneiros,

encantos e espantos...

É atracar...

Atracar nas praias do senso

à beira da insanidade...

e SER pacífico!

É pôr a mobília íntima pra fora...

Virar ao avesso

o âmago da alma,

pendurar o ser

no varal dos tempos,

tomar banho de orvalho, garoa, vento

É pegar sol... na sombra!

Tirar o mofo da sala!

Fazer poesia é:

falar alto

em pensamentos...

Dar sentidos, destilar sentimentos

Ver

através do vazio

Ouvir

através do silêncio

o eco do infinito movimento...

Ter

todas as dúvidas e respeito

pelos ritos que celebram a vida

Crer

em todas as crenças

Ler o certo

por linguagens tortas

É não ter idade e, principalmente,

falta de tempo pros amigos

e não possuir nada além de si mesmo

É uma viagem solo, pessoal e intransferível...

É ser múltiplo e possível...

Derrubar barreiras do inconsciente!

Descrever o indescritível!

Conquistar o prazer inenarrável!

Redundar, redundar... sem medos e intolerâncias...

Fazer poesia é... tudo isso!

Encontrar um oásis no deserto,

sereias em alto mar,

a fonte da eterna juventude,

ter filhos, dar frutos...

Querer saber tudo...

Fazer poesia

é tão... simplesmente... tanto!...

...que não se cala,

desata

em cada verso

o passe da mágica,

o nó do mistério

que cada poeta concebe.

Deus é que é mágico!


Rio, 18/12/2000


ENIGMA

Cairo Trindade

Para Laura Esteves


sou esta ponte de espanto

no entra-e-sai – no vai-e-vem

metade de mim é quando

a outra metade é quem

parte de mim é desespero

outra parte desencanto

só sei ser múltiplo inteiro

quando eu amo – quando eu canto

tento juntar os pedaços

passos, pessoas passadas

não sei onde estão meus rastros

meu retrato mais exato

entre estes cacos e restos

nem perfil nem biografia

se me perdi nos meus versos

um dia viro poesia


in Poematemagia, Contemporânea, 2001


POEMA VOLÁTIL

Cristina Terra


me diluo e concretizo

secreto senso liso

volatilizo a idéia

vibrada na matéria

pelo soar do guizo

– oco e conciso –

som cintilante que ecoa

na ponte de versos

em horas vagas...

são vagas de vaga-lumes

a iluminar

poetas, profetas,

estetas da palavra tingida,

fingida e possuída por

horas vagas...

onde, árduas,

doces ou amargas,

as magras sílabas

brotam

na transpiração

do poema.


À PONTE DE VERSOS

Elisa Flores


Um grande pequeno espaço

Com artistas reunidos

Que, nas terças alternadas,

Atravessam ponte mágica

E decantam poesia.

Conduzindo tal evento,

Eficazes lideranças

Vão chamando, convidando

Todo aquele que emblema

O resgate do poema.


Rio, 30/04/2001


A PONTE DE VERSOS

Gilson Maurity


Eu fui no Itororó

Beber água

Não achei nem linda morena

Que diziam haver por lá.

No caminho tinha uma

Pedra que não se mexeu

Com meu andar.

Disseram pra eu ir

Pra Pasárgada

Que lá tinha um rei porreta.

Preferi continuar

O meu caminho

Pra Santa Maria de Passarinhos.

Aí encontrei uma ponte,

Ponte sem rio por baixo

E sobre ela uns poemas

E todos os poetas por lá

Falando de coração aberto,

Com a boca, com as mãos

E na poesia imersos:

Era a Ponte de Versos.


GHOST-WRITER

João de Abreu Borges


O poeta tem tanta coragem

que, expondo a si mesmo,

expõe-se profundamente,

deixando, assim,

na alma dos versos que escreve,

a alma dos homens que os lêem.


PONTE DA ALQUIMIA

Jorge Ventura

Para Thereza e todos os poetas da Ponte de Versos


I


depois do nada – esplim.

no apogeu do abandono,

sobrevivo ao naufrágio do mim.


II


emerjo das águas árduas

– lágrimas nos olhos –

e ancoro-me em tábuas.


III


eis o porto, o ponto, a ponte.

meu encontro marcado contigo,

onde nada é obscuro e sem horizonte.


IV


pois, sobre a ponte, envolvidos na alquimia,

sorvemos, de nós, puramente,

a amizade e a poesia.


V


quanto a teus versos, coloque-os

junto aos meus, misture-os

e entenda-os como um só colóquio.


PONTE DE VERSOS

Luiz Fernando Prôa


Na tela negra

de minhas emoções

vaguei

cego de amores

No vazio

de invisível estrada

meus pés

inseguros

cruzaram

por frágil

Ponte de Tábuas

Do outro lado

agora claro

divisei tua alegria

e te amei

Não foi à toa

construímos

poesia

Juntos

afinal

coração a coração

faremos da vida

poema

pois nos ligamos

corpo e alma

por esta

Ponte de Versos


ATÉ NO CHÃO

Marko Davis


A Ponte só parece um lugar pequeno:

fica tão cheio!

Difícil encontrar uma cadeira

para ver e ouvir o verso

de um irmão ou irmã

de grande coração

que põe seus sonhos

sentimentos

a cada estrofe.

Aqui

na Ponte de Versos

até sentado no chão

vale a pena ouvir

seus poemas e canções.


Rio, 28/06/2001


CUIDADOS...

Messody Benoliel


Lá me realizo

ouvindo, sentindo

e refletindo com maestria.

Se a Ponte de Versos

inexistisse, barcos,

berços d’água,

desnecessários seriam.

Só reflexão inevitável

me alcança – coisa de poeta.

É o sentido duplo de uma frase

ali ilustrada:

Cuidado com a cabeça!


Ponte de Tábuas, 17/04/2001 – 23h30


DESCRIÇÃO

Nei Leandro de Castro


Fio de náilon limita

onde o céu e o mar abraçam

silêncios amalgamados.

Rumor de fecundação

no cemitério das águas,

espanto de algas feridas

por dentes de um peixe cego.

O clarim do sol quebrando

os vidros da madrugada.

Setembro toma emprestado

o colorido de abril,

última estrela desmaia

aspirando cloretil.

Por trás do biombo de nuvens

a rubra aurora se veste,

corpete moldando o busto

e rosas vermelhas entre

a lassidão dos cabelos.

Um leque de quatro cores

oculta-lhe o azul do sexo.

Aurora virgem, amante

dos loucos e suicidas,

todas as noites adúltera

na cama do mar ausente,

o hímen reconquistado

por anjos, peixes e pássaros.


À PONTE DE VERSOS

Paulo César Oliveira


I


Há uma Ponte entre dois pontos.

De um lado, estou eu, sob o céu

Tão distante. Do outro, o horizonte

Onde vejo todos os homens –

Amantes, amigos, vadios,

Homens comuns vindos de longe.

Vêm vindo, com sede, à Ponte

De Versos. Têm sede de versos

E bebem o que podem. Sacodem

Dos ombros o mau humor,

O mal de amor, os escombros

E toda sombra do resto do dia.

É que na Ponte somente passa

A Poesia.


II


Há também muitos pontos de vista

Para quem olha da Ponte:

Visões de poetas, patetas, ascetas,

Profetas, xeretas, caretas,

Todos muito loucos e não são

Poucos. E, portanto, mesmo longe,

Em outra geografia, há sempre poesia

No meio do caminho que é a Ponte:

Este ponto azul no meio de tua testa.

Este susto e medo de ser Poeta.


Ponte de Tábuas, terça-feira, 15/05/2001


SUICÍDIO

Pedro Tostes


Amarrei em mim um poema:

uma ponta no pescoço

outra num verbo

e me atirei

da Ponte de Versos.


Jardim Botânico, 9/07/2001 – 16h30


PONTE DE VERSOS

Ricardo Ruiz

Para Thereza


Ponte de Versos

Edifício de palavras

Sobre o rio de bela imagem.

Poemas em profusão

Exercício de produção

A Casa da Criação.

Produzimos nossa colagem

Vivenciamos a passagem

Da construção da paisagem.

Gente de qualquer idade

Poetas de qualidade

Fusão de mentalidades.

Pensamentos a todo vapor

O poeta virando ator

Transformando a dor em cor.

Uma fonte de fina lavra

A energia mais cara

A emoção não pára.

Agora uma boa dica:

Qualquer um que participa

Sua alma purifica.


Cosme Velho, 15/05/2001


RODERICO VI

Ricardo Ruiz


Eu sou Poeta!

Poeta do Posto Nove.

Do pê de palavra,

Do pê de poema e paixão.

Poeta da pura piração.

Da plena perdição,

De prática na penetração

E perícia na perfuração.

O papa da putaria!

O pirata da passeata,

O Polinizador da pele pelada,

O Prevaricador do paradoxo,

O protetor da polimetria,

O pesquisador da polissemia.

O prelúdio da paisagem

Poeta do Parangolé,

Profeta da Ponte de Versos!


SANGRIA

Selma Wandersman


Cada palavra que cai,

É mais uma fenda que sangra.

Cada verso que estanca,

É mais um poema que se esvai.

Poesia é amor, suor,

É sexo, sofrimento e dor.

Para cada palavra cuspida,

É uma idéia escorrida

Como lágrima de choro ou felicidade,

Como gota de suor.

Só me resta a realidade

De tentar, tentar, tentar,

Aguardar a inspiração,

Mesmo que o branco insista

Em negar o que me entala

E evitar que em escrita vire a fala

Este pensamento que me cala.


Ponte de Tábuas, 1/05/2001


COXAS DE CETIM

Sérgio Gerônimo

Para a Ponte de Versos


sugo tua nuca seca

subo nas tuas ancas santas

sumo nas tuas coxas

desarrumo todas as colchas

de cetim

mas, de certo, só o deserto

da cama

e a escama saída

de minha marota manobra

que se amarrota na mesma

rota-peixe

e sinta

e deixe...

o sulco da tua nuca

que desarruma tuas ancas luciferanas

não mais secas as colchas

sumo, uma vez mais, nas tuas coxas

de cetim


A PONTE DE TÁBUAS

Silvia Bagrichevsky


Uma dia sentei numa mesa

Deste bar. Com certeza,

fiquei acesa,

atenta aos prosadores.

A poesia se ouvia em cores,

nos ouvidos reluzia.

O tempo passa leve

e ninguém sentia

os mestres criadores

brincando com amores,

tristeza, alegrias,

deixando a sala vazia de certezas

e plena de belezas

que mundos e mundos diferentes

ofereciam ali à gente que sente,

gemendo o coração de alegria,

tocando as almas de perdão e conforto

em saber que também no outro

existe a incerteza de tudo

que ali se despe e se veste

de fantasia,

desejos e aspirações.

Na Ponte de Tábuas,

são tantas construções

que não há espaço para senões,

talvez ou pode ser.

Ali já é tudo

tão cheio de conteúdo,

que a ponte estremece

fazendo valer o poema

a uma breve prece.


PONTE DE SONHOS

Sonia Segadas

Ao segundo aniversário da Ponte de Versos


Da pele dos pêlos

dos dedos

do corpo inteiro

esguicham versos

num mar de tábuas

onde barcos de papel

embarcam

a navegar ao vento

sentimentos

intensos gritos

momentos vividos

divididos

os mais bonitos poemas

como o ser amado

bailam sonhos alados

em revoada

na Ponte de Versos


AS TIME GOES BY

Tanussi Cardoso


Meu bem

Me chama de Humphrey Bogart

Que eu te conto Casablanca

Me tira esse sobretudo

Sobretudo, conta tudo

Que eu te dou uma rosa branca

Mas, meu bem

Me chama de Humphrey Bogart

Te dou carona em meu carro

Chevrolet – que sou bacana

Te levo, meu bem, pra cama

Fumamos nossa bagana

Te provo que sou sacana

Te faço toda a denguice

Te dispo que nem a Ingrid

Te dou filhos de montão

Só pra te ver sufocar

Mas me chama de Humphrey Bogart

Faço chover colorido

Como num bom musical

Te chamo de Lauren Bacall

Te danço, te canto, te mostro

Entre as pernas meu bom astral

Te deixo pro enxoval

Meu chapéu preto de gângster

Mil poemas de ninar

Só pra te ouvir sussurrar

Como te amo meu Humphrey Bogart!


in Poemas Cariocas, Ibis Libris, 2000


INGRID

Thereza Christina Rocque da Motta

Para Tanussi Cardoso e seu Humphrey Bogart, a resposta prometida


Amor,

me chame de Ingrid Bergman

que eu volto à Casablanca

arranco teu sobretudo

jogo fora teu chapéu de gângster

e te levo pra Paris

até as margens do Sena

pra ver a Notre Dame

na ilha de São Luiz!

Te farei tanto carinho

de fazer inveja a qualquer

Lauren Bacall...

Me chame de sua Ingrid

que dançarei pra você

o cancã de Montmatre

e o Folies Bergère na Praça Pigalle!

Depois me leve em seu Chevrolet bacana

até a Riviera.

Vamos gastar nosso tempo

dando outro fim pra nossa história.

Mas, se de tudo, não der certo

lembre-se:

nós sempre teremos Paris!


Rio, Jardim Botânico, Livraria Ponte de Tábuas, 7/12/1999

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