domingo, 30 de agosto de 2009

VERONICA DIAZ

QUANTAS LÁGRIMAS


Caíram umas lágrimas minhas

No andar de baixo

Ou no corredor

Ou no pátio da garagem.

Sei lá.

Perdi de vista.

Tantas eram

Que perdi a conta.

Como colar de contas

Que de repente

Arrebenta

Explode aos borbotões

Escorrendo.

Elas saem correndo

Felizes

Brincando

Procurando um esconderijo

Enquanto uma

Conta até dez.

Tantas lágrimas contei hoje

Que em vez de lenço

Passei o pano no chão.

– Ai, lá vem o meu vizinho

Reclamar de infiltração!


INVERNO


Diz minha amiga

Que estou fechada.

– É que há muito não nos vemos.

Fechada!

– Escrevendo.

Fechada!

– É inverno!

Conhecendo o meu verão

Ela ri.

Mas como fechada

Se nunca ninguém antes

Desconhecidos, amigos ou amantes

E nem mesmo eu

Algum dia viu algo tão meu

Que só agora

Toco, escrevo e mostro?

Como fechada

Se qualquer um que me ouça ou leia

Vislumbra a deusa e o monstro

A cada verso mais linda e mais feia?

Mais que aberta

A vida super exposta

Arrombada até.

Fechada, sim.

Reclusa, recosturo

Rememoro, revolvo.

Às vezes, regurgito

Partes de mim.

Fechada.

Para vendilhões que um dia

Invadiram meu templo.

Fechada, sim.

Tantos querendo abrir

Portas e janelas

E eu só agora

Aprendo a fechar as minhas.


ÓTICA


Faz tempo não escrevo.

Engolida pela vida prática

Lavo roupa

Passo roupa

Arrumo a casa

Banco

Supermercado

A vida passa.

Tomada pela estética

Vou ao cinema

Ao teatro

Ginástica

Praia

Amigos

Festa

A vida me abraça.

Devorada pela casa trágica

O prazer é ralo

Afundo em procura mística

No amor me embalo

A vida cresce.

Mas quando deito

Não encontro lógica

Se perco a mão

Esqueço a mágica

A vida coça.

Então sento e escrevo.

Aí eu me lembro:

É que escrever dói.

Reviro do avesso

Gravando em relevo:

A vida merece.

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