domingo, 30 de agosto de 2009

VAL VELLOSO

DECANTAÇÃO


Quanto mais morro, mais vivo.

A planície dá preguiça.

Nem sei mais rezar o terço e me

sinto mais perto de Deus, de tudo.

Não estrago, descasco e vou até o talo.

Não desperdiço, lapido.

Me lambuzo do sumo,

puxo até o último trago.

Eu filtro.


ERUDIÇÃO


Incondicional, arbítrio de uma potência.

Fugaz, o pensamento rola

que nem rolimã.

A mudança é constante e

contemporiza a ânsia de ser.


DECUPAGEM


Era domingo

e ela descascava a tarde feito laranja.

A faca afiada deslizava sobre a fruta

e a vida vinha em bagos.


APLANAÇÃO


Banhada em lágrimas

com os olhos pra lua

e o corpo na compreensão do limite,

sentou-se na privada

e entoou uma cantiga pueril.

O silêncio pede grito,

a palavra pede ação,

o medo, construção,

a sensibilidade requer janela.

Ela deu descarga na razão.


FERTILIDADE


Imbuída pelas águas lentas

percorrendo seu corpo,

aplanava-se banhando-se no rio.

O sol da manhã dourava a sua pele,

anunciando mais um facho de luz.

Suspiros unidos ao canto dos pássaros,

manifestava uma idéia de mundo.

O vento soprava assanhando a paisagem

e toda a terra naquele momento

ia dando vida às sementes.


VORAGEM


Chego ao precipício,

hora de compreender o vácuo

desse mundo sei-lá-o-quê...

Nem é fim da estrada

e essa inquietação me consome.

E eu ainda nem sei,

se é nessa parada

que eu quero ficar.


DEVENIR


A celeridade atropela hora,

anuvia vista,

tira o sabor da fruta,

desorienta a rota dos sonhos

e deixa a barca em contratempo.

Amiúde prisão de um passado

Com o curso em minueto, hoje

ela se esparrama nas virginais margens,

se lança na relva do Olimpo

e não se extravia por intermúndios da utopia.

Ela se entrega à distração.

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