domingo, 30 de agosto de 2009

VICTOR FARINHA

AUTO-RETRATO

(Soneto sem uma orelha)


Na sombra azul da quase angústia, um rosto.

Com seu olhar de soslaio e ironia,

sem luz que o perpasse, me desafia

à própria face de enigma transposto.

Pelos mais negros presságios de agosto

e a vocação de ter por companhia

tantas palavras doentes da poesia,

solidão permanente, ele é composto.

O quadro é um espelho, meu duplo, a esfinge.

Do que em mim lhe devora se fez a

dor que o rosto na tela agora finge.

Expressão que jamais se me revela,

por inteiro, o enigma dessa tristeza

surpreendentemente bela.


QUASE VERÃO


Preso à solidão dos dias,

observo

a tarde entornando-se em luz

sobre estas árvores.

Vibra,

nas frestas da sombra

lançada ao chão da praça,

teu nome

soletrado em brasas.

A mão invisível do Tempo

arde em meu ombro

como a bátega de sol

sobre a cidade.


OLHAR BARDO

Para o poeta Mário Mirandressa


Estão lá, no silêncio

sem azul nem luz.

São sombras

dançando na escuridão

essas palavras.

Deus, invisível, sussurra imagens

ao olho bardo que o transvê.

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